D esceu a rua quase que automaticamente. Há muito tempo não o via. Não que o coração houvesse deixado de sentir, bem ao contrário, sentia mu...

Conto do amor perdido

Desceu a rua quase que automaticamente. Há muito tempo não o via. Não que o coração houvesse deixado de sentir, bem ao contrário, sentia muito, mesmo não vendo. Mas era um sentir doce, sereno quase...  Mas vê-lo assim, de repente, sem aviso, foi um baque.

A pulsação acelerou, o coração disparou, faltou o ar, o chão desapareceu sob seus pés. O amor nunca deixara de estar ali, como um lobo à espreita, esperando o momento certo para uivar. Como doía, como machucava vê-lo tão feliz, tão sem precisar dela, tão sem lembrar! O olhar de ambos se cruzou por um segundo, talvez menos.

Um mundo de lembranças coube naquele breve olhar, um mundo de palavras não ditas, de gritos não emitidos. Ela ainda o amava. Doía a constatação de que o amor era só dela, sem reciprocidade alguma, sem chance de frutificar. Quando os olhares se cruzaram ele não desviou o dele; ela sim. Para não ver o braço enlaçando a cintura da outra, para não ver o sorriso, a cumplicidade com a outra. Mas a outra era ela agora. E ele queria que ela soubesse, queria que ela visse, que ouvisse o som do riso dos dois. Ela ouviu, ela sentiu. E viu muito mais do que ele intencionava mostrar, viu o ar de triunfo, o ar de regozijo dele.

Ela nunca quis que fosse assim, jamais quis que ele soubesse da traição. Foi um erro, um momento que não valia um amor como o dela por ele. Mas ela errara, ele soube e jamais cogitou perdoar. Também por isso ela baixou os olhos diante dele, por saber que jogara fora o que era mais caro aos dois, a confiança, a lealdade. Por vergonha de haver jogado fora o amor valioso dele por ela.

Enquanto descia a rua ela pensava, e as lágrimas desciam quentes, abundantes, sufocantes. Chorava por si, chorava por ele, por tudo o que ele chorara. E chorava por tudo o que fora seu e agora pertencia à moça sorridente cuja cintura ele enlaçava e descia a rua...


Por Elaine Gaspareto


D esde pequeno eu os via juntos. Passavam em frente a minha casa, sempre de mãos dadas. Para o menino de 10 anos eram já velhos, embora hoje...

Mãos Entrelaçadas

Desde pequeno eu os via juntos. Passavam em frente a minha casa, sempre de mãos dadas. Para o menino de 10 anos eram já velhos, embora hoje eu saiba que deveriam ter, na época, cerca de 40 anos ele, e ela em torno de 35. Eu os via sempre. Não tinham filhos; tiveram uma menininha, mas a perderam num acidente de carro. Nunca mais se aventuraram... Moravam numa casinha azul, rodeada de árvores e flores, e cada menino do bairro cobiçava as mangas que carregavam de um cheiro doce o ar de dezembro. Mas era uma cobiça certeira, já que todos nós desfrutávamos daquela mangueira!

Eu fui crescendo, fui deixando de ser menino e eles sempre de mãos dadas pelas ruas do bairro. Quando eu entrei para a faculdade e fiquei fora 4 anos eles continuaram a andar juntos, apoiados nas mãos dadas... Voltei. Soube então que ele adoecera. Mas ainda os via, nas ensolaradas manhãs de domingo, enquanto eu lavava o 1º carrinho da minha juventude, passos mais lentos, ele apoiado nela, as mãos entrelaçadas... Quando me casei eles não puderam assistir ao meu casamento com a menina mais bonita do bairro pois ele já quase não se levantava da cama...

E o tempo passou... No ano em que meu 1º filho nasceu, ele a deixou finalmente sozinha; as mãos se deram pela última vez... Era uma ensolarada manhã de abril...

Hoje passei pela casinha azul rodeada de árvores. A mangueira está florida, logo dezembro chegará e as mangas estarão perfumando o ar do bairro onde eu nasci e onde eu fui criado. Ela estava lá, sentada na cadeira antiga, olhando a rua, contemplando talvez a vida, talvez o tempo...

Sorriu ao me ver passar de mãos dadas com a menina mais bonita do bairro. Por um momento ela me olhou bem dentro dos olhos. Firmemente. E sorriu. Sabendo de todas as vezes que eu a vi com o seu menino andando de mãos dadas pelas ruas da minha infância...


Por: Elaine Gaspareto


 

N ão vivemos sozinhos, pois nossa vida encontra-se entrelaçada às vidas de quem está ao nosso lado, em casa, no trabalho, aonde quer que vam...

Não estrague seu dia com problemas que não são seus

Não vivemos sozinhos, pois nossa vida encontra-se entrelaçada às vidas de quem está ao nosso lado, em casa, no trabalho, aonde quer que vamos. Com isso, acabamos nos envolvendo, em maior ou menor grau, com muitas coisas que, na verdade, não nos dizem respeito. Sendo assim, para que possamos seguir em frente sem carregar demais o peso de nossas passadas, é preciso que tenhamos a consciência de que nem tudo o que acontece tem a ver com o que a gente faz.

Embora seja difícil não nos envolvermos com o que acontece bem ali do nosso lado, principalmente quando se trata de algo relacionado a quem amamos, como, por exemplo, nossos familiares, deveremos conseguir guardar um espaço de calmaria dentro de nós, para que não estejamos sempre com o coração pesado. Caso contrário, não viveremos em paz em nenhum lugar, carregando uma carga negativa em todos os ambientes em que estivermos.

Existem pessoas que nunca estão tranquilas, como se precisassem de preocupação para poder viver. Não conseguem enxergar solução para nada e acabam destinadas a sofrer todos os dias, seja pela sujeira na calçada, por conta de um filho rebelde, da torneira que pinga, prendendo-se a qualquer dissabor, tornando-se presa somente do que não está dando certo. Jamais serão capazes de enxergar o tanto de coisas boas que possuem.

Além de se sentirem a pior das criaturas, tentarão, a todo custo, culpar o mundo por tudo o que lhes acontece, recusando-se a refletir sobre o papel delas próprias naquilo tudo. Muitas vezes, inclusive, elas culpam a nós por aquilo que elas mesmas provocaram, pois não aceitam que o outro não esteja tão infeliz quanto elas e querem nos levar para junto de sua própria escuridão. É assim que muitos parceiros, colegas de trabalho, amigos, acusam uns aos outros e é assim que os relacionamentos se deterioram e findam.

Portanto, é preciso que sempre estejamos fortalecidos e certos quanto ao que somos e fazemos, para que não sejamos influenciados com a negatividade dos outros. Sabermos o que é nosso e o que não nos diz respeito nos livrará da negatividade alheia, blindando-nos contra as tentativas de fora de nos puxar em direção à tristeza e à miséria que não são nossas. Já temos bagagens demais; desnecessário carregarmos as malas de quem só guarda quinquilharia emocional. Sejamos felizes, por causa de e apesar de certas pessoas. É isso.

Prof. Marcel Camargo


S empre me surpreendo quando ouço alguém dizer que é pessoa muito sincera e que, por isso, fala tudo aquilo que pensa a respeito das outras....

Sempre me pergunto

Sempre me surpreendo quando ouço alguém dizer que é pessoa muito sincera e que, por isso, fala tudo aquilo que pensa a respeito das outras. Penso que algumas criaturas sinceras costumam falar mais livremente de si mesmas e de suas mazelas: com os outros é bom agir com cautela! Falar tudo o que pensa acerca de uma outra pessoa sem ter sido consultado é, no mínimo, deselegante. Na maior parte dos casos, é agressivo.

É curioso observar que as pessoas ditas sinceras, que se sentem à vontade para falar das outras, raramente dizem palavras elogiosas a elas. Criticar e falar mal dos outros não é sinal de boa autoestima; falar bem de si mesmo também não o é. Delicadeza e discrição são bons sinais.

Muitas são as vezes em que as críticas, mesmo quando verdadeiras, são uma forma sutil de manifestação invejosa daquele que está falando mal. Só deveríamos falar algo a respeito do outro se formos insistentemente solicitados: e convém verificar se ele está mesmo pronto para ouvir!

Toda crítica é incômoda: ao falarmos do outro, mesmo que a pedido, é preciso delicadeza e cuidado para não magoar mais do que o inevitável.

Flávio Gikovate